domingo, 2 de agosto de 2009

Vai. Mas seja sincero, por favor.

Ontem, depois da vitória sobre o Sport, Pierre, um dos melhores volantes do futebol brasileiro, comentou em entrevista na beira do campo a proposta que recebeu de um clube dos Emirados Árabes. E, como faz todo jogador, disse que adora o clube, que por ele ficaria, mas tem que pensar na família, no lado financeiro, que precisa conquistar sua independência. Se não fosse isso, adoraria ser campeão pelo Palmeiras.

Quer saber? Mais sincero (não só mais sincero que o Pierre, mas que todos os jogadores que saem de seus times) foi o Keirrison, que nunca declarou amor ao Palmeiras, que deixou claro que o time era mesmo apenas um trampolim para a Europa (apesar de ter declarado que cumpriria seu contrato até o fim). Porque é isso que nossos times são para os jogadores. Para nós, são a nossa paixão, a razão de ser do futebol ("Palmeiras minha vida é você" canta-se no Palestra Itália). Mas, para eles é apenas uma etapa a cumprir para ir para a Europa. E querem ir o mais rápido possível, pela primeira proposta que aparecer. Não importa se para o Uzbesquistão, Emirados Árabes ou Ucrânia. O que importa é receber em euros.

O único comprometimento da atual geração de jogadores é mesmo com a sua conta bancária. Todos com o mesmo discurso, de fazer a tal independência financeira. Não, eles não querem só a independência, eles querem ficar multimilionários.

Não é de hoje que jogador de futebol tem carreira curta. Sempre foi assim. Mas nem sempre eles ganharam as quantias fabulosas que ganham hoje. E o que faziam os craques dos anos 60, 70? Tratavam logo de investir num negócio que pudesse lhes render conforto na aposentadoria. Muitos investiram em postos de gasolina, em algum comércio. Mas para a atual geração isso não é suficiente.

Claro que todo mundo tem direito de querer ser milionário. Principalmente quem tem uma possibilidade concreta de realizar esse desejo (na verdade, quem não tem? É que a gente não joga bola...). Mas o que o jogador de futebol não tem direito é de ser hipócrita. De declarar amor ao clube, de chorar na coletiva de despedida, mas nem titubear na hora de assinar com o clube do mais desconhecido e inóspito país da Eurásia. Isso não.

Sejam mais sinceros. Assumam todos de uma vez que futebol é mesmo business. E nós, que somos piores que os viciados em crack, que não conseguimos mesmo largar o vício, ainda que a razão nos mostre o quão sem sentido ele se tornou, seguiremos com nossa paixão, mas pelo menos não seremos menosprezados. Porque falar uma coisa enquanto faz outra, além de ser incoerente, é querer menosprezar a inteligência alheia.

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