quarta-feira, 16 de abril de 2008

Grandes e pequenos

Este ótimo texto é uma colaboração do meu pai, Haroldo Ribeiro. (Viu como eu sou democrática? Publico o pensamento até de sãopaulinos).

Comecei a acompanhar futebol, torcer e saber das coisas desse esporte, em 1949. Naquela época, bem como na década seguinte, em São Paulo, claro que era completa a cobertura do futebol paulista, boa a do carioca, razoável a do mineiro e a do gaúcho e praticamente só. Além desses tínhamos apenas uma ligeira noção que havia campeonatos em Pernambuco, na Bahia e no Paraná, mas muito pouco se tinha de notícias deles. Tínhamos vagas idéias da existência de Santa Cruz, Náutico, Bahia, Vitória, Coritiba, mas praticamente nada se sabia deles. O futebol de outros estados era totalmente inexistente para nós. Goiás, Paysandu, Figueirense, CRB, Moto Clube e Criciúma foram nomes que só se tornaram familiares décadas depois.

Em São Paulo havia cinco “grandes” na época, os atuais quatro de sempre, Corinthians, Palmeiras, Santos, São Paulo e mais a Portuguesa, considerada grande, então. Além disso, havia os pequenos tradicionais, alguns dos quais ainda hoje batalhando, como Juventus, Portuguesa Santista e Nacional, e outros já desaparecidos, como Ypiranga, Comercial, Jabaquara. De lá para cá, um daqueles “grandes”, a Lusa, deixou de sê-lo, passando, se não à categoria de pequeno, no máximo à de médio. No entanto, nenhum dos “pequenos”, conseguiu subir de categoria. Tivemos alguns casos esporádicos, o Guarani sendo campeão brasileiro e outros campeões paulistas, Internacional (Limeira), Bragantino, Ituano (se bem que este num campeonato do qual os grandes não participaram) e São Caetano – uma ameaça de promessa nos últimos anos, chegando mesmo a não ser campeão brasileiro só por causa de uma falcatrua do Eurico Miranda. No entanto, nenhum desses e mesmo outras “ameaças” que tivemos no passado, como a Ferroviária de Araraquara, a eterna Ponte Preta e, neste ano, o Guaratinguetá, conseguiram ascender à categoria de “grande”.

No Rio de Janeiro de então havia seis considerados grandes. Os quatro que continuam merecendo essa qualificação, Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco e mais dois: América e Bangu. Muito bem, estes dois últimos deixaram de ser grandes há muito tempo. O América, recém caído para a segunda divisão do Rio e o Bangu nem sei por onde anda, mas nem sequer disputou o campeonato principal deste ano. Aliás, fenômeno estranho o do Rio: como não é um futebol que acompanhamos no dia a dia, estranho o “sumiço” de vários outros times que, embora pequenos, eram tradicionais. Além de Bangu, por onde andam São Cristóvão, Olaria, Bonsucesso, Canto do Rio e, por outro lado, de onde surgiram estes novos que andaram disputando o campeonato deste ano? Mas, de qualquer forma, não tivemos nenhum pequeno subindo também. Algumas ligeiras ameaças de Volta Redonda e Madureira mas que ficaram só na “ameaça”.

Em Minas os grandes eram Atlético, Cruzeiro e América. Os dois primeiros continuam grandes e o América desabou, deixou de ser grande e também “desapareceu”. Do lado oposto, pequenos despontaram, como o recente caso do Ipatinga. Foi campeão mineiro há uns dois ou três anos, ascendeu à série A do brasileirão mas, neste ano, já foi rebaixado à segunda divisão de Minas.

Finalmente no Rio Grande do Sul, onde lá pelos idos da década de 50 os grandes eram Grêmio, Internacional e Renner. Os dois primeiros se mantêm grandes e o terceiro desapareceu. Enquanto isso o único pequeno que colocou um pouco as manguinhas de fora foi o Juventude que, mesmo assim, ainda está longe de poder ser considerado grande.

Assim é possível afirmar, com base nos acontecimentos desses quase sessenta anos em que “vivo” futebol que, até prova em contrário, pode acontecer de “grandes” se diminuírem e se tornarem médios, pequenos ou até mesmo sumirem, porém é praticamente impossível que pequenos se transformem em grandes, podendo até ter seus brilharecos eventuais, mas depois voltando sempre à “pequenês” a que estão permanentemente atrelados.

A única motivação é que a cada ano, a cada campeonato, sempre aparece um “cometa”, que ninguém sabe de onde surgirá, e que está pronto a complicar a vida dos grandes e às vezes, até mesmo a conseguir um brilho maior, conquistando campeonatos.

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